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terça-feira, novembro 13, 2007

À infância só se chega partindo de muito longe. A infância é aí, onde partes, não onde chegas. Olha para trás. Que vês? Nada. A memória é a única coisa que verdadeiramente te pertence, mas lembras-te de um estranho. Como poderias, há muitos anos, saber que eras apenas a lembrança de um estranho:

tu?

Lembras-te do carrinho de pau? Lembras-te do poço? O que havia debaixo da cama? O que estava escondido atrás dos cortinados?

Palavras é tudo o que tens. O carrinho de pau: palavras. O cão: palavras. O medo: palavras. Alguma vez tiveste outra coisa?



Manuel António Pina



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5 Comments:

Blogger Ricardo António Alves said...

Que texto fantástico do MAP, Lebre!

13/11/07 23:15  
Blogger Ricardo António Alves said...

Só me apetece relê-lo. Está a custar-me sair...

13/11/07 23:17  
Blogger lebredoarrozal said...

pois é, raa, eu ainda não consegui sair, desde sábado que o ando a ler e a reler.
é fabuloso:)

13/11/07 23:41  
Anonymous Anónimo said...

hmmm quase todas as fotos têm UMA mulher

acaso?

14/11/07 12:34  
Blogger Graça Pires said...

A memória. A infância. As palavras.
"Alguma vez tiveste outra coisa?"
Alguma vez tivemos outra coisa?

14/11/07 17:53  

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