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sexta-feira, novembro 14, 2008

Estou a oscilar, a agitar-me, em desequilíbrio; de um lado o desejo, já com sabor a não-vida, do outro a noção do fim. Paira a ameaça sobre o corpo-depois-do-fulgor. Não há senão memória desfibrada incisiva o medo desoculto de que a serpente me engula com a sua boca desproporcionada.

Acordo tantas vezes de madrugada, o meu coração é uma planície deserta, coração dilacerado desesperado inchado cordeiro manso ou feroz de olhos furados. Não te deites docilmente, vão roubar-te tudo, o ladrão virá de noite com as suas garras venenosas e dir-te-á

«Não ames!»

Não deixes, não deixes, expulsa-o, extirpar-te-á o fígado e ficarás o que não és e és agora, não o que fomos e somos hoje, o mistério não acontecerá como o milagre não aconteceu, o depois evitará o antes e esse será o fim, a treva, os dedos sem mãos, silêncio de eterna neve.




Ana Marques Gastão




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